domingo, 10 de maio de 2020

Mãe (Sentido universal)

                                                                  


Dia das mães!
É hora de inundar as redes sociais com fotos, homenagens, rimas e mensagens
Mas  já paramos para pensar porque fazemos isso mais profundamente?

Seria aquele dia para explanação de amor? Gesto de culpa? Ou pra não ficar de fora ao sentido comercial que a data proporciona? Alias, não falo somente desta data especifica, mas de todas as datas já pré concebidas em que homenageamos coisas pessoalmente importantes ou importantes para o coletivo mas cuja o sentido de reflexão muitas vezes se perde.

Homenagens a deusas da fecundidade sempre existiram desde o inicio dos tempos, e o poder feminino de gerar a vida é obviamente muito associado ao sentido de ser mãe, mesmo assim, não existem relatos de associação entre os rituais e a maneira como celebramos hoje. O sentido que utilizamos hoje, ou pelo menos, o que se aproxima, se deu nos Estados Unidos quando Anna Jarves resolveu homenagear sua mãe, a ativista An Jarves sugerindo uma data especifica ao governo para homenagear um dia de sua mãe, An que era muito ligada a igreja metodista e trabalhava ajudando mulheres a suprir os problemas de saúde que a falta de saneamento básico trazia a elas e seus filhos. An faleceu em 1905 e em 1914 Anna conseguiu a tão sonhada data, sendo no segundo domingo de maio, próximo a data de morte de sua mãe, mas não imaginou que ao falar de sua mãe estaria falando de tantas outras, logo sendo atribuído o sentido comercial a celebração, o que a desagradou muito, e que fez com que ela passasse o resto de seus dias lutando para que o sentido comercial fosse desvinculado a data e que o verdadeiro sentido, o de homenagear sua mãe pelos seus gestos caridosos fossem resgatados. Ela não conseguiu o feito e jamais comemorou o dia, sua ideia no entanto, apesar do sentido comercial é em tese a parte da homenagem mais importante que as pessoas fazem a suas genitoras, apesar de que isso é muito particular de cada um.

Mãe tem um sentido muito abrangente, é amplo, a terra por exemplo, é a mãe que permite toda germinação da natureza, e mesmo tão maltratada ainda continua gerando, um amor incondicional que se estende em comparação a geração de filhos humanos por nossas mulheres, elas também apesar de nos darem a vida, serem base importante para o nosso caminhar, são por nós maltratadas e as vezes inferiorizadas, porque são mulheres. Homenageá-las não é só um sentido fofo como vendem as marcas de flores e bombons, é também um sentido político e plural. Mães geram homens e mulheres, e muitas vezes essas são mais machistas que os próprios homens por elas criados, e assim se repete um ciclo vicioso, mas que vem mudando a cada dia. Nesse sentido, a maternidade entorno de cuidados não cabe só as mulheres, homens também tem essa função, bem como mulheres assumem maternidade e paternidade. Cuidar é o sentido! Acompanhar o crescimento, orientar e deixar dar os próprios frutos. Mãe é muito maior do que "a minha mãe". O sentido da maternidade é universal, por isso, apesar da beleza da ideia de Anna, jamais poderia ficar somente sob a instância de sua história pessoal.

Outro ponto interessante é a mudança de relações entre pais e filhos nos dias atuais, hoje com a tecnologia os jovens tem muito mais voz, o sentido de obediência em "você deve me escutar porque sou seu pai" foi substituído por um dialogo muito mais aberto. Os pais também precisam educar-se junto aos filhos, escuta-los, aprender as novidades do mundo com eles. É de fato um trabalho muito mais de acompanhamento, direcionamento e compartilhamento do que um autoritarismo do passado, ainda que muitos insistam em auto afirma-lo. Obviamente isso não deve ser confundido pelos filhos com desrespeito ou falta de limites.

As datas comemorativas muitas vezes doem para as pessoas que já não tem mais o ente querido por perto, isso acaba sendo muito mais por um apego a representação do evento do que a pessoa que se foi, afinal, quem já perdeu alguém importante sabe que todos os dias são falta, e que vão se amenizando com o passar dos anos, chegando para alguns a aceitação natural do tempo de nascer e tempo de morrer,as duas únicas certezas da vida. É importante dizer também que ninguém morre completamente enquanto é parte da memória de alguém. Se sua mãe partiu para um outro plano, toda vez que você se lembra dela ela está viva em você. Se você tem poucas lembranças pelo motivo que seja, talvez suas atitudes mais orgânicas sejam parte viva dela, o famoso berço, a influencia dos genes,e o maior mistério de todos que ultrapassa inclusive o da vida e da morte, o mistério do amor.

Na infância lembro de uma passagem importante de uma colega de classe que sempre chorava nessa data, e eu obviamente não podia entender o que ela sentia, mas meu silêncio respeitava, outros colegas no entanto se incomodavam e diziam: Eu não tenho culpa se ela não tem mãe, só estou homenageando a minha. De fato, a colega não tinha culpa por ter a sua viva, e a outra também não pela sua ter partido. Realmente um discurso a estância infantil mas que pode aflorar por uma vida inteira. A maturidade se da pelas experiências vividas, mas assistindo a tantas outras pode-se ao menos haver o respeito, principio de tudo. Mais tarde quem sabe o entendimento.

Aos que tem a pessoa amada ao seu lado, no caso abordado hoje a mãe, mas que se estende a qualquer outro vinculo afetivo importante, que o medo de perder seja um estimulo a mais para valorizar, e não só no sentido comercial, mas no sentido mais profundo; valorizar na simplicidade do dia a dia. É comum ouvir dizer "Não sei o que eu seria sem alguém". A vida  naquela situação te encaminhará, o importante é não carregar o peso de não ter aproveitado. Lembrando também de  passar por uma reflexão pessoal ao questionar... Aproveitei enquanto pude, o quanto pude, fiz o meu melhor, mas somos duas pessoas distintas, com rotinas e decisões distintas.


Quando falamos em "vinculo afetivo importante" em pleno 2020 não tem como não falar da consciência de que toda vida e todo dia importam, afinal é o que temos aprendido com essa pandemia, nunca o ciclo da mãe natureza, origem de tudo foi sentido tanto na pele, ainda que tardiamente e em parte da população, mas um movimento forte e revelador que nos põe a questionar: Como tenho tratado o verdadeiro sentido de mãe? Como tenho me tratado?  Feliz dia!



quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Ode ao viajante




A homem, que antes era motivo de deboche
Quando muito jovem, eu pensava poder lhe conhecer
Grande homem que um dia saiu de uma vida
Pra se fazer em outra, pintada com as cores de seu próprio ser
Que se ausentou anos, tantos, que quando retornou
Ali não podia mais viver
Não lhe acompanharam lá
Te julgaram de cá
Estás no meio
Enfim, alcançaste a virtude
És humano, vês o martírio dos que ficam e nada fazem acontecer
Conhece a esperança dos que partem, sem saber a sorte que vão ter
Tu que foi, que voltou, que tantas vezes teve que renascer
Tu que és jovem tamanho a experiência, tu que és simples, quieto
Tão sábio, como os que não cansam de aprender
Bom te saber!

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O Pensamento do Herói



Eu prefiro ser tido como "bobo da corte", "iludido", "a toa", por ainda hoje dar luz as minhas paixões.
Maldito mundo onde se aprecia o mascarado, o falso mistério, ao invés da transcendência de ter experimentado algo vindo do coração.
Pessoas assistem meu espetáculo abrindo o vidro do carro enquanto eu, não temendo febre, danço na chuva distraindo a multidão.
No fim desse espetáculo sei que corro o risco de terminar cansado, e ter por prêmio apenas alguns aplausos e algo que remoeram e aquietaram no íntimo, mas mesmo assim prefiro ter vivido por uma genuína comunicação, do que por anos e anos de metades distraídas no conformismo do que não vivi, por optar em adjetivar tantos equívocos, tais como as palavras "forte", "frio", "frágil", "pé no chão", para justificar o verdadeiro sentimento em questão, o medo.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Consumo

Me encontrei como uma xícara de chá vazia e empoeirada pelo tempo
Acho que não me adequei direito a vida moderna
Definitivamente não gosto de ostentar
Não gosto de pertencer, apenas sou
Mas gosto de afeto, de outras pessoas
Como então buscá-las batendo a sua porta, pedindo uma xícara de chá?
E fugir disso que já me consumiu mais não é orgânico... como, por exemplo, não ter mais telefones salvos na agenda do celular porque já falamos via WhatsApp?
É a modernidade sugada pela modernidade, pela comodidade, pela inutilidade
Eu sempre fui medroso, sempre fui...
Preciso de ninho, de cachorro no quintal, mas a anos que vivo sem nada disso
A xícara vazia que achei empoeirada no fundo do velho armário da vida que tive que abandonar, hoje recebeu novo liquido, de água, sal, que escorreu dos meus olhos e transbordou a cor de sua superfície
Límpida, transparente, amarela, preta
e nunca tão vazia.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O caminho



Vou trilhando um caminho
Que o caminho mesmo faz
Namorando a liberdade
Com amor fiel, sagaz

Mas tão triste é a estrada
Que não tem ninguém comigo
Como é dura a madrugada
Sem contar com ombro amigo

Dos poetas praticantes
Dos artistas ascendentes
Tantos pararam na estrada
Já com dor mais aparente

Já cairam em um ninho
Que ali, por si, cercou
Desistiram do caminho
Que alado o sonho armou

Vou seguindo um destino
Que nem sei se vou chegar
Se é destino ou desatino
O que faço é caminhar

Perfume



A lembrança do perfume é algo real, sentimental
Das meninas com seus truques, em conversas com as avós
Já aprendem muito cedo, essa arte de dar nó

Certa moça que me passa, sinto cheiro de outro alguém
Um perfume que me enlaça, dá vontade de também,
Baton, brinco, ladeando, vento e o olfato me entrevem
Quero tato, quero trato, quero o mapa desse alguém

Na memória olfativa se confunde a sensação
Essa tal que não é ela, não repõe a emoção
Mas propõe nova jornada, no jardim da sedução
Nessa força da libido, desenrola o coração

sábado, 24 de janeiro de 2015

A Bondade



A bondade é silenciosa
Despercebida num mundo de shows e fogos
Ela não necessita de autoafirmação
Resumi-se ao sensorial 
A bondade encorpa a vida dia a dia
Como o ciclo de lua e sol
Tem seu aquecer, seu acalentar
É desconsiderada pela falta de dramaticidade
Pouco vista pelo sangue quente, desacreditada, depreciada
Suas doses para tantos nunca tem limite suficiente,se perdem como sal no mar
Poucos lhe sabem utilizar, mas sua fonte é infinita, e fácil de encontrar
Está no silêncio dos inocentes, na natureza que encobre o ar, no dormir e acordar
Na paz pós guerra, na voz em tom baixo, na linguagem dos olhos, no canto dos pássaros, na chance nova há cada dia
A bondade está em agradecer, em respeitar-se enquanto ser