segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Dor social




Choraram os monumentos, as estátuas, a civilização
Das pedras escorreu água e sal
Chorou o Colosso de Rodes, o Taj Mahal, a Esfinge de Gizé, chorou o Buda
Mas não pelo que se vê...
Apesar de grandiosas edificações, apesar de gloriosos olhares horizontes, choraram pelo não visto.
Pela injustiça de cada dia, pelo que acontece individualmente e o ser humano não é capaz de reconhecer, por cada desesperança jogada no muro das lamentações, por cada pessoa que ali visitou e deixou sua energia.
Mas seus olhos continuaram a voar longe, sua doação não se reparte, e para humanidade é sempre mito,
pois são vinte vezes maiores do que a estatura de um homem, porque o humano reverencia suas pedras e fazem lhe valer de carne, e choram sua própria existência buscando respostas no que nunca de fato viveu, apostam no suspenso jardim de pedras, buscando concretude na instabilidade da alma.
A estátua segue firme, ou em estilhaço.
E a raça humana sempre insatisfeita.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Processo


Desarrumado
Não acho os pertences meus
Desesperado
Não flui, o que aconteceu?
Enfeitiçado
Meu quarto já não sou eu, sujeiras, quem me meteu? 
E eu que não sou ateu, e a fé que me protegeu?

Banhos pra energizar, paisagens pra meditar, a mente desembolar
Velas pra harmonizar, sal grosso, deitar no mar

Preciso desapegar

Minh'alma por no varal, secar-me do lamaçal, das bocas que fazem mau

Blindar-me de sol e sal

Por fim nessa palidez, bronzear-me com altivez, trocar a pele de vez

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Noite de amor


Ele ligou numa discagem rápida dizendo o horário da chegada
Ela confirmou sem perceber que o tempo era curto
Deu-se conta que para tê-lo, e sempre, era necessário uma série de cuidados
Preparou o ninho de amor
Varreu o chão, engomou a cama, dobrou as roupas, tirou o pó,
perfumou o ambiente, enxugou a louça, valorizou os enfeites, ascendeu incenso,
voltou a música várias vezes para ser exatamente aquela quando ele chegasse...
Olhou  a hora, estava encima, correu pro banho, passou seus cremes, a maquiagem, 
borrifou perfume, demorou na roupa e mais ainda no cabelo
Assim é o seu jeito feminino de seduzir
Ele na porta, passaram-se dez minutos do tempo combinado, três chamadas não atendidas no celular
Ela abriu a porta, um rápido oi, dele uma agil olhada panorâmica de tudo e a ação
Beijou-a a boca, apertou seu corpo, dedilhou sua libido,despiu sua produção, borrou-a de desejos, jogou-a na cama, marcou-a de prazer
Olhos rodaram, realizados respiraram, ela o acariciou sob o peito como com a carência de um animal que quer atenção do dono por mais atenção que tenha, pois a ele vive para se dedicar , a mesma cobrança sem cobrar.  
Ele desejando respirar, aperta-a forte sob a mão e vai se banhar... Pensamentos vazios de satisfação que se dão momentos pós essas vontades profundas da alma  a se realizar.
Voltam-se e colam novamente os corpos para juntos descansar, agora sim, ele lhe acaricia os cabelos levemente até adormecer
O incenso já queimou, a música parou, o dia clareou e ele vai... ela então se pergunta? Tanta coisa feita e ele nem notou?
No inconsciente dele ficou a semente que ela consciente plantou, no inconsciente dela já nem nota, que foi consciente de tudo que ele desfrutou.
Segue seu dia, arruma novamente a cama, reflete no banho a noite que passou... uma nova mensagem no celular e novamente a todo ritual ela volta a se propor...

E assim é o jeito masculino dela de seduzir
E assim é o jeito feminino dele de apreciar