quarta-feira, 30 de maio de 2012

Vizinha Solidão




Tenho uma vizinha, vizinha indesejável
Que ronda certos momentos do meu dia
Toda vez que ela me observa vem-me tristeza
Vem-me vontade de distração, de amigos, muitos amigos
De namoros, de sexo, de atração, de qualquer tempo com outros
Mas por mais convites que eu faça e que me sejam feitos
Tudo se acaba na matemática das horas e resta apenas eu sob os olhos dela de novo

Minha vizinha é tão impertinente que se faz presente até quando penso que me livrei
Sinto-a as vezes em meio a uma multidão, sinto-a a observar minha alma, dentro aqui

Dou a festa pra não correr o risco de ficar a sós com ela
No meio da festa ela aparece e me observa, todos brindam, ela não
Todos falam, tento me colocar, mas ela é quem está a disposição
Vão embora, bêbados, copos pelo chão, sem se importar com o que deixaram de mão
É... Alguém tinha que ficar pra apagar a luz

Eis eu de novo lado a lado com ela, minha vizinha solidão

Pensando melhor, talvez minha vizinha seja a melhor companhia
Ela nunca vai embora e apesar da dor dessa amizade, as vezes é a única com quem posso contar
Conhecendo-a melhor, quem sabe eu possa me conhecer mais também
Se ela vive a me observar, talvez tenha criticas construtivas sobre mim

terça-feira, 29 de maio de 2012

Ingratidão ao natural



Dias maravilhosos em que insisto ficar em casa
E o sol se esforçando em brilhar dando trinta e dois graus num outono de maio
Talvez por atender ao pedido das praias, tão carentes sem ter alguém a sua beira para brincar.

E eu aqui, dentre essas quatro paredes, resistindo ao convite solar
Saindo ao fim do dia na pressa de coisas pra comprar
Desperdiço um dia de folga, desperdiço um dia de paz

Me sinto um vampiro, aquele que só anda nas trevas
E ainda reclamo do aborrecimento solar
Que carregado de nuvens desaba a chorar

No momento da noite em que eu iria funcionar
Grito ''Pare de berrar''
Mas por consequência terei que de novo em casa ficar

Ouvir os choros do céu na tempestuosa madrugada
Para que se acalme e no outro dia venha tranquilo, disposto a me reconquistar
Eu, esse ingrato ser humano

As águas



Explodiu uma bisnaga e no céu se esparramou
Coloriu de todo azul, nossos olhos, o Senhor

Mas sem tempo de secar para baixo se espalhou
Esse tom azul celeste em oceano resultou

Águas claras deslumbrantes, um caribe em perfeição
Onde os seres animados se refrescam desse tom

Um Brasil de colorido, águas doces, mananciais
Entre copas, entre aves, respiração dos animais

Águas turvas, águas chocas, rios, lagos, torrenciais
Águas verdes azuladas, lendas vivas de ancestrais

Oceano de mistérios, num profundo que jamais
Homem algum terá plumagem, ver da praia satisfaz

Glauco tom que me enraíza no frescor que tem o mar
Num respiro que fomenta uma vida além do ar

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Lembranças de rotina


Lembro do cheiro de mato molhado pelo orvalho nas manhãs frias em que levantava para ir estudar.
Lembro do cheiro de café e pão torrado que meu pai preparava todos os dias e invadia meu quarto quando eu ainda nem tinha levantado.
Lembro do peso das cobertas que a anos cobriam nossa família.
Lembro do trajeto que fazia de uniforme azul  e mochila nas costas, da estrada hora concreto hora barro, num horário de verão que permitia com a sensação de noite ver o dia ir amanhecendo e aquecendo minha terra.
Lembro de tirar o casaco.
Lembro do papo com os amigos ou da caminhada solitária e auditiva.

Aquela rotina, então pesada, que eu jovenzinho não via a hora de acabar.

Mas é possível dizer com a vivência que a rotina é parte da felicidade, a rotina significa uma estabilidade, a comodidade tão precisa ao ser humano, os laços... mas que também tão exaustiva, o que faz com que sempre procuremos transição. Essa é a explicação de eu não ser convencido pela rotina de hoje, rotina que daqui alguns anos me trará tanta saudade.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Intuição



Gosto da chuva pela renovação
Os pingos que caem propostos a lavar as almas
E reanimar a terra, tão sugada pelas próprias criações

Gosto dos sonhos com significados
Ainda que isso seja arriscado
Sábios presságios a matéria, quando esta sabe interpretar

Tenho esse lado místico
De mistérios ao qual sondar
As propostas que são minhas e como vou realizar

Tenho esse lado ritualístico
De um barraco a planejar
Em que eu possa ouvir a chuva, no aconchego de um lar

Cheiro de terra molhada
Infância que passou
Cheiro de asfalto molhado
Urbano homem que resultou

Sou essa dualidade
De mato e concreto
Instigado e alarmado
O menino e o homem
A alma e a matéria

Nesse equilíbrio... me mova assim... Intuição.

domingo, 13 de maio de 2012

A herança



Nesses dias tão corridos, de tamanha confusão
Quando quero ir ao eixo, toco sempre uma canção

Das heranças de minha mãe, das lembranças que eu sou
A que soa sempre rica, é o dom que incentivou

Quando era bem menino, no piano me matriculou
Um contato com a arte, que hoje é parte do meu show

Sempre vivas na lembrança, essas notas permanecem
E lembrar que dali fugia, pois brincar era minha prece

Hoje faço o contrário, não sou grande tocador
Mas se vejo um piano, de ouvido toco o amor

A canção eu toco alto, notas que vão me acalmar
Consciente que no céu, a melodia vai chegar

Nesse céu está minha mãe, e presente sempre aqui
No caminho que eu trilho, é uma luz a me sorrir

Nosso encontro é sempre assim, como encanto que pairou
Resultado desse laço? Sem limites é o amor

Se em vida luminosa, ia sempre me assistir
Saiba mãe que es exemplo, e eu sempre vou seguir


Os Coqueiros



Hoje olhei para uns coqueiros...
Coqueiros comuns.. nem os de praia, nem tão feios...

No balanço do vento parecem desabar
Mas o que fazem de fato, é com o vento dançar

Percebi nos tais coqueiros, nem os de praia e nem tão feios...
... um desvio singular, uma hipertrofia muscular

Percebi no ponto percebido, parasitas a morar
Outras vidas que na vida se permitem improvisar

Perguntei pros tais coqueiros se gostavam de ser lar
Pois comum de ser humano é não ter sarna pra coçar

Me responderam os tais coqueiros com seu próprio balançar
Suave valsa da natureza que só faz harmonizar

Fiquei mais calmo

sábado, 12 de maio de 2012

Invasão



Invadiu o que era meu, nesse cerco se criou
E pensava que era eu, o motivo dessa flor
Lhe plantei nesse terreno, com adubo a tratei
Muitas vezes do rei sol, minha rota desviei, te dediquei

Retribuiu é bem verdade, em beleza se abria
E de fato nesse tempo era boa companhia
Mas contudo tudo passa, nesse palmo não deu mão
Precisei que tu voltasse pra sua fértil criação

Eis por erro de percurso, ou excesso de adubo
No terreno enraizou, e outra flor enamorou
Das daninhas tão falantes, que queriam nos podar
Hoje em ti vêem qualidades, nesse chão é popular

Era imenso meu alqueire e hoje sinto se cercar
Os segredos do meu pólen, te serviram pra florear
Eu de sol sempre fui feito e liberto em meu lugar
Invadida minha terra, vejo tudo ressecar

E percebo que aqui nunca foi o meu lugar
Pois o mato corre solto, não há nada pra barrar
Jardineiro eu não fui, eu fui flor a me doar
O meu erro mais profundo foi deixar de te podar

O papel de jardineiro, decidi abandonar
Sua beleza escondia os espinhos a afiar
Hoje nada mais eu faço, nada mais a de brotar
Todo fruto que valia, tu vieste me roubar

Tantas flores despedaçaram sob minha plantação
O jardim que eu plantava era feito de ilusão
Pois a flor que é plantada, cria vida e decisão
Decisão nem sempre justa com o pai de criação

Apesar de ter raiz, apesar de algum amor
O jardim que fui feliz, já não tem muito valor
Se contudo que aprendeu, não quiseste desbravar
Desbravador então sou eu, vou nascer em outro lugar