quinta-feira, 24 de maio de 2012

Lembranças de rotina


Lembro do cheiro de mato molhado pelo orvalho nas manhãs frias em que levantava para ir estudar.
Lembro do cheiro de café e pão torrado que meu pai preparava todos os dias e invadia meu quarto quando eu ainda nem tinha levantado.
Lembro do peso das cobertas que a anos cobriam nossa família.
Lembro do trajeto que fazia de uniforme azul  e mochila nas costas, da estrada hora concreto hora barro, num horário de verão que permitia com a sensação de noite ver o dia ir amanhecendo e aquecendo minha terra.
Lembro de tirar o casaco.
Lembro do papo com os amigos ou da caminhada solitária e auditiva.

Aquela rotina, então pesada, que eu jovenzinho não via a hora de acabar.

Mas é possível dizer com a vivência que a rotina é parte da felicidade, a rotina significa uma estabilidade, a comodidade tão precisa ao ser humano, os laços... mas que também tão exaustiva, o que faz com que sempre procuremos transição. Essa é a explicação de eu não ser convencido pela rotina de hoje, rotina que daqui alguns anos me trará tanta saudade.

2 comentários:

Amanda disse...

Mais uma linda criação !! Muito profunda,maravilhoso demais !!

Priscila Lopes Franco disse...

Que construção! Tem a textura de uma crônica, com um singelo tom de reflexão. Acredito que algum especialista em psicologia, ou algum neurologista se interessaria nesta arte justamente pela associação do tato, olfato, visão e som, com a memória, como um foi levando ao outro desencadeando ao um misto de sentimentos. O sr. sabia que a memória que inclui lembranças de odores têm tendência para serem mais intensas e emocionalmente mais fortes? Foi justamente como iniciou esse texto "Lembro do cheiro de mato molhado..." "Lembro do cheiro de café e pão torrado..." Foi um belo texto! É muito agradável lê-lo!